(...continuação)
NOVELA
Como o termo romance não aparece, em língua inglesa e espanhola, no sentido de gênero literário, utiliza-se, nos dois idiomas, a palavra novela (novel e novela, respectivamente) para designar obras narrativas de longa duração.
Em português, no entanto, o termo novela é causador de grande confusão teórica, por não haver limites claros de sua abrangência e de seu sentido. Assim encontramos um conceito de tal forma vago que é aplicado indistintamente a obras como O alienista, de Machado de Assis, Vidas secas, de Graciliano Ramos, e até mesmo a O continente, de Erico Verissimo. Para ampliar ainda mais esta imprecisão conceitual, consolidou-se, em termos de senso comum, o termo novela (ou novela de tevê) para indicar a telenovela, gênero de assombrosa popularidade no Brasil contemporâneo.Afinal, que tipo de relato constitui-se como novela? Em que ela se diferencia do romance e do conto? Infelizmente não temos uma resposta segura para esta questão. A fluidez do termo se presta a várias interpretações. Sabe-se que é uma espécie intermediária entre a longa extensão do romance e a brevidade nervosa do conto, mas não há coordenadas rígidas para delimitar as diferenças.
Por funcionar como uma nebulosa espécie intermediária entre dois gêneros consagrados e fáceis de definir, o termo novela nem sempre é empregado por professores e críticos. Há certas narrativas, porém, que, pelo seu próprio volume de páginas, não se enquadram nem como conto nem como romance. Digamos, de maneira mais ou menos arbitrária, que a novela (em edições de formato e tamanho convencional) gira em torno de trinta a cem páginas.
De resto, a novela ultrapassa o conto pela construção melhor elaborada de um personagem central e pela relativa ampliação do tempo e do espaço. Mas, em relação à infinidade de situações registradas por qualquer romance, a novela apresenta um número pouco significativo de acontecimentos.
Sua ênfase, portanto, recai sobre o personagem, como no gênero romanesco. Só que neste, o protagonista é construído por uma multiplicidade de eventos, enquanto na novela o personagem se afirma existencialmente em apenas uma ou em algumas poucas situações.
Entre os exemplos clássicos de novela figuram – além de O alienista, já citado – A morte de Ivan Ilicht, de Tolstói; Os sete enforcados, de Andreiev; A metamorfose, de Kafka; Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel García Marquez; e A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado.
Há quem dê à arte muitas definições conforme seus interesses diretos: culturais, profissionais ou comerciais. Grosso modo, dizem: isto é arte, aquilo não é. Seja qual for a manifestação artística, defino arte assim: Arte é a emoção de quem a faz, cristalizada pela emoção de quem a recebe. É por isso que, ao se contemplar uma obra de arte, ouvir uma música, assistir a uma peça teatral, uma película cinematográfica, uma telenovela, ler um livro ou outras manifestações artísticas, uns gostam, outros não. Daí, se falar de público específico, de segmento, de mercado de nicho em contraponto ao mercado de massa.
A telenovela se destina ao mercado de massa. Para os críticos ortodoxos, tecnicamente não é considerada arte, posto que, até quando se cria – fala-se aqui genericamente –, se faz pensando em conceder, literariamente ajoelhando-se aos pés do público e, literalmente de olho na pesquisa de opinião. Índices elevados trazem veiculação de comerciais e merchandising que geram grandes faturamentos com altíssimos lucros.
Luiz de Camões, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e José Saramago, assim como Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Vinícius de Moraes e Mário Quintana, para ser econômico nos exemplos da literatura luso-brasileira, jamais perguntaram aos seus leitores se aquelas obras-primas que estavam a escrever eram do agrado deles e, nem por isso, eles e suas obras deixaram de ser imortais.(continua...)
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