5 A teledramaturgia e as
conexões da literatura, história
& música popular
Não consiste em exagero afirmar que a ficção televisiva seriada constitui uma instituição
imaginária brasileira, principalmente porque esta se realiza em conexão permanente com
as outras artes tradicionais, como a literatura, o cinema e a música, e a sua atualização confirma o que entendemos como expressão de uma cultura pop brasileira, irradiando-se diariamente pelo cotidiano nacional dos jovens, velhos, homens, mulheres, pobres, ricos, setores rurais e urbanos da população.
De maneira surpreendente, verificamos que a exportação da teledramaturgia para vários países do mundo implica num estilo de interculturalidade que se mostra importante, por exemplo, nas adaptações das obras portuguesas de Eça de Queiroz, O primo Basílio
(Gilberto Braga, 1988), Os Maias (Maria Adelaide Amaral, 2001). Assim, a excolônia
retorna à antiga metrópole sinalizando novas maneiras de contemplar e atualizar a tradição literária por meio das artes tecnológicas da televisão.
Todavia, no que diz respeito às minisséries, cumpre observar que os seus entrelaçamentos
mais profundos ocorrem nas malhas da história. De algum modo, o olho eletrônico da televisão distingue novas espacialidades e temporalidades para uma reconstrução
da história. Isso aparece no livro de Barbéro & Rey (2001), autores que apontam para a conjunção entre a tecnicidade, a visualidade e a oralidade das narrativas ficcionais como modalidades históricas para a formação da cidadania. É nessa direção que apreciamos as minisséries Anos Rebeldes (1992), Agosto (1993), Decadência (1995), Hilda Furacão (1998), Guerra de Canudos (1998), Chiquinha Gonzaga (1999), A muralha (2000), A invenção do Brasil (2000), Aquarela do Brasil (2000), A casa das sete mulheres (2003), Um só coração (2004), Mad Maria (2005), JK (2006) e Amazônia (2007), entre outras, que apresentam outras maneiras de se contar a história do Brasil.
Não são representações históricas, em seu sentido tradicional, são antes simulacros, histórias de ficção cujas narrativas se perfazem na transversalidade da memória histórica.
Convém perceber que quase todas as décadas, os períodos fundamentais da nossa
história são contemplados nas minisséries.
É interessante não serem exatamente histórias oficiais, pois assim, liberam uma camada da história do Brasil, por outros itinerários afetivos, estéticos, lúdicos e sendo o resultado
de pesquisas rigorosas o produto final tem sido satisfatório. Em termos educacionais é importante que sejam disponibilizadas no mercado no formato dos DVDs, servindo de
instrumento de debate e crítica nas escolas, além de poderem ser capturadas na internet.
A sua utilização é estratégica uma vez que atrai a atenção das novas gerações, cujas orientações se fazem interligadas às novas mídias interativas e para os pesquisadores são
úteis também na medida em que podem ser reeditadas e reutilizadas de acordo com os
interesses pedagógicos, científicos, estéticos, gerando debates fecundos.
As minisséries nos oferecem imagens e sonoridades extraordinárias do Nordeste (O
Pagador de Promessas, Padre Cícero e Memorial de Maria Moura), do Norte (Mad
Maria e Amazônia), do Sudeste (Grande Sertão Veredas e Hilda Furacão), do Centro
Oeste (JK) e do Sul do Brasil (O Tempo e o Vento e A Casa das Sete Mulheres). Isto é,
a imensa territorialidade histórica e geográfica, projeta-se numa vasta territorialidade
simbólica que fala profundamente ao espírito nacional, em todas as suas diferenças culturais. Assim, no contexto de uma indústria cultural poderosa se inscreve uma matriz cultural pluralista que, alegoricamente, atende às expectativas dos indivíduos e grupos sociais distribuídos na diversidade da malha cultural brasileira.
(continuação...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário