4 A ficção, a mulher e a
modernidade
outras ficções televisivas latino-americanas) é a maneira ousada como este gênero narrativo representa e muitas vezes, antecipa a revolução dos costumes. O regime dos afetos, da sensualidade, do amor livre, os códigos da moralidade, do comportamento social se mostram em toda a sua evidência nas televisões do Brasil. E isto, evidentemente, diz respeito à maneira como se organizam as relações familiares, o hibridismo das religiões, as modalidades de opressão e de resistência no contexto da vida sociocultural e política, que repercutem de maneira visível no campo da ficcionalidade. Neste ambiente das cidades, que vão se urbanizando, transformandose em termos de trabalho, vida e linguagem, podemos perceber a evolução da mulher brasileira e suas projeções no corpo da ficção televisiva seriada. De maneira singular, o tema se inscreveu na minissérie Quem Ama não Mata (Euclydes Marinho, 1982), uma denúncia vigorosa contra os chamados “crimes em defesa da honra”. Aliás, conviria recuperarmos aqui a bela metáfora de Anamaria Balogh para descrever a inserção do tema das mulheres nas minisséries, no artigo “Perfume de Mulher” (2005), na medida em que a evolução histórica da teledramaturgia está associada à história da emancipação feminina. Este aspecto de simbiose entre a evolução da mulher e da minissérie pode ser constatado em diversos títulos como Anos Dourados (1986), O primo Basílio (1988), Tereza Batista (1992), Memorial de Maria Moura (1994), Dona Flor e seus dois maridos (1998), Hilda Furacão (1998), Chiquinha Gonzaga (1999), A casa das sete mulheres (2003), Hoje é dia de Maria (2005).
A teledramaturgia é uma instituição no Brasil, como o carnaval, o futebol, o candomblé
e dialoga bem de perto com outra instituição que ainda tem muita força do imaginário
social, ou seja, a família. Logo, as minisséries acompanham de modo bem próximo as transformações da família no Brasil e aí, convém assinalar, falamos de uma mudança
que acolhe as dimensões dos membros da família, não só a mulher, mas também o
homem, que, a partir de um certo declínio da sociedade patriarcal, num país ainda com traços machistas fortes, faz uma reflexão sobre os seus valores, o seu papel no contexto de uma sociedade que se modificou, como podemos vislumbrar na adaptação do livro de
Mário Donato, Presença de Anita (Manoel Carlos, 2001).
(continua...)
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